Durante boa parte da minha infância morei com minha avó. Portanto, posso dizer que durante boa parte da minha infância morei num parque de diversões. Sempre associamos os avós aos momentos bons da infância pelo afeto instantâneo que eles nos causam, pelos inúmeros pedidos atendidos, pela proteção, pelas histórias e pelo amor inabalável. Assim vejo minha avó. Sempre fomos muito ligadas, os dias em sua casa nunca eram os mesmos, apesar de toda a rotina. Aos domingos preparava a macarronada mais gostosa que já comi. Me ensinou a fazer ponto-cruz, mas não a costurar, porque isso ela tinha o prazer de fazer por mim.

Sempre cautelosa, quando me percebia distante, me dava aqueles sábios conselhos, que às vezes, pela imaturidade eu demorava a entender. Mas, que acabava seguindo.

Um fato que ocorreu em nossas vidas acabou por nos unir ainda mais. Meu irmão mais novo tinha sete anos, na época e eu, dez. Jamais vi minha avó tão mal como naquele dia e o sentimento me era íntimo, ainda que eu não soubesse. Minha mãe não estava mais entre nós. Assim, meu irmão e eu fomos morar com nosso pai e a casa da avó passou a ser o esperado fim de semana.

A família toda se reunia na casa dela, irmãos, tios, primos, netos. Um verdadeiro alvoroço, dada a eletricidade e a faladeira presentes, duas das varias heranças genéticas da família Guedes. No café da manha, meu tio fritava ovos para comermos com pão e café, enquanto a "televisão sugava nossa inteligência" (como ela costuma dizer ate hoje). À tarde íamos pra rua brincar com os amigos de pira-alta, pira-cola, e as demais variantes de pira ate ela nos chamar por 3 vezes. Após a brincadeira, o jantar era servido. Seguida do jantar, mais uma maratona de brincadeiras iniciava. Os meus preferidos, adedonha, baralho, domino, jogo da memória e demais jogos de tabuleiro, desta vez éramos acompanhados pelos nossos tios. No fim da noite, meu tio tocava violão e nós o acompanhávamos cantando Mamonas Assassinas, Legião Urbana, O Rappa, The Cure, The Beatles e outras bandas legais. Minha avó sempre acompanhava e ria de tudo que fazíamos.

A hora de dormir chegava, colchões jogados no chão, redes armadas e a molecada pronta pra dormir. Como minha avó dormia rápido, fugíamos do quarto e passávamos a madrugada jogando vídeo game e conversando, fazendo esforço para não rir ou falar alto. Aos poucos um a um era vencido pelo sono. Na outra manha ninguém queria acordar. Mas, era só sentir o cheiro inigualável do café da vovó que todo mundo levantava.

Essas memórias de sua casa antiga até hoje vivem lúcidas em minha mente. Claro que minha família e o bairro, além da casa em que ela morava tiveram sua importância nesta época, mas essas lembranças talvez não fossem tão doces e felizes sem a presença de minha avó. Que até hoje sabe quando é hora de dar aqueles seus bons conselhos. A ela minha gratidão será eterna por ser presente em minha vida nos momentos em que mais precisei. Graças a ela sei o que sou. 

Vó, Te Amo!


Lianah Himura