Macapá, 20 de agosto de 2011.
                                                                                    




















Considero que tenho vários lares, pois no decorrer de minha vida foi assim que vivi: em vários lares. Casa dos pais, casa da avó, casa do pai, casa da avó, casa do pai, casa da tia, casa do namorado, casa da tia, casa do pai... E assim vai. 

Muitas pessoas me perguntam: "Mas moras aonde, afinal?". Respondo de acordo com a ocasião e sempre acham isso engraçado, ou estranho, ou um barato. Sim, não tenho há mais de  11 anos a mesma rotina, não acordo na mesma casa todos os dias, e isso me parecia bom. Acabava pensando que era legal viver assim sem um lugar fixo pra não enjoar das mesmices de cada local e assim ia vivendo.

Entretanto, hoje consigo entender a verdadeira razão de não conseguir parar, de não me acomodar. Percebi que não me sinto à vontade em todos estes lugares. São lares que não são meus, apesar de neles morarem pessoas de minha família que muito amo. Não me sinto membro, não sinto que sejam Meu Canto. E realmente como se fosse uma hóspede, uma cigana, uma nômade (como meu pai costuma dizer). Sempre bate dentro de mim algum sentimento que me faz pensar que nem um desses é o meu lugar e lá vai eu a me mudar.

Na minha infância, meu lar não era propriamente concreto, como uma casa, meu lar era apenas duas pessoas: minha mãe e meu irmão. Pensava que passaria minha vida toda com eles dois e que para onde um fosse, todos iriam. Era uma espécie de tripé e assim, me sentia segura, sem qualquer necessidade de me mudar, de estar em outro lugar, com outras pessoas, sem enjoar. Um grupo ímpar que se completava.

Todavia, o alicerce mais forte desse tripé foi desfeito. Ficamos só meu irmão e eu e desde então, muitos tentaram simular o alicerce mais forte do tripé para que sentíssemos a mesma segurança de antes, mas jamais foi a mesma coisa.

Por fim, tudo se desfez e foi ai que comecei minhas mudanças. Procuro em cada lar algo que jamais vou novamente achar: o alicerce mais forte. Por isso, não paro, vivo inconscientemente a procurar pelo alicerce que estabilizava o tripé da minha vida, o tripé-lar em que eu vivia junto com meu irmão.

E logo me vem a dúvida: Será que vai ser sempre assim? Essa busca errante, esse resgate desnecessário. Ou será que só vou me sentir em um lar quando tiver um para chamar de Meu?