Macapá, 14 de outubro de 2010.

Presenciei hoje uma questão tão comum na minha futura profissão, mas que acredito que por causa da minha inexperiência, fui a única em questão que se sensibilizou.

Chegamos ao local e lá estavam pai e filha se abraçando, aproveitando os últimos instantes de liberdade e de intimidade. A filha chorava copiosamente e não queria largar o pai, porém, era a hora de ir, não havia mais nada a fazer. Os outros parentes os afastaram, na tentativa de conter o sofrimento dos dois.

A filha se foi do local, o pai ficou e, imdediatamente  começou a prestar sua declaração sobre o que aconteceu: "O rapaz sempre mechia com meus filhos, batia neles quando eles iam ao come´rcio ou roubava dinheiro deles. Por várias vezes, me chamava de macaco quando me via, eu nada fazia. Porém, uma vez estávamos bebendo num bar, ele começou a me agredir verbalmente, eu não suportei, fui para cima dele. Ele estava com uma arma, que eu consegui pegar. Atirei; ele morreu." Os repórteres perguntavam e concluíam: "Então, foi em legítima defesa?", ele afirmava com a cabeça.

Mais perguntas, era visível que ele não aguentava mais aquela situação, repetir e repetir o que havia aontecido. E os policiais dando pressão: "Fala, te defende, fala o que aconteceu, homem". Mas, aquele homem não suportava dizer mais nenhuma coisa que fosse. Ao sair da sala, a vi. Encostada na porta "muída", com os olhos vermelhos. Todos saíam e entravam sem se quer lhe olhar ou perceber sua triste presença ali, enquanto que seu pai era atacado pelas perguntas dos jornalistas que tinham interesse maior em colher os fatos para escrever mais uma matéria para o dia.

Enfim, as perguntas terminaram. O pai foi encaminhado para o centro de detenção e a filha foi para a casa sem o pai. Os dois separados por um acontecimento que ainda que de forma indireta envolvia o amor dos dois. O pai quis se proteger e proteger a filha, conseguiu, porém perdeu o direito de tê-la todos os dias ao seu lado.

Lianah Himura