Macapá, 13 de janeiro de 2013.




E 14 anos se passaram...

São muitas as lembranças que moram com a gente, que depois de uma certa idade, se tornam difusas. Nos causam aquela sensação de dúvida. Nos fazem questionar sua verdade e imaginar se aquilo não foi um sonho (ou um pesadelo).

Mas, desta lembrança não tenho dúvida. Ela é tão absoluta que suas consequências mudaram por completo minha existência.

Naquele dia, as coisas não iam bem. Era aniversário do meu tio. Mas, as coisas realmente não iam bem. Ela estava mal novamente. O que fez minha avó levá-la no hospital. Como de costume, eu ficava responsável pelo meu primo e pelo meu irmão.

Pedi para que ela voltasse e que pudéssemos comer salgadinho com o molho rosé que ela preparava pra gente. Para que ela visse o quanto eu estava melhor em matemática. Para que ela entendesse que nem sempre era eu a culpada quando meu irmão aprontava.

Passaram 03 horas...

Ao ver minha avó voltando sozinha, carregada por meu pai e minha tia mais velha, constatei: ela não vai voltar.

Mesmo com a certeza aqui dentro, eu queria me apegar à ignorância daquele instante. Mas, logo tudo se foi. 

"A mãe de vocês faleceu", disse meu pai.

Até hoje, uma dor tão grande quanto aquela não chegou a ter comparação para mim. Uma sensação desnorteadora. Como se eu estivesse à deriva, como se tivesse sem querer desprendido a corda do barco, do cais. E eu tinha apenas 10 anos, meu irmão tinha 07.

Desde aquele dia até hoje me pergunto: "E agora?" Claro, muita coisa mudou, mas a pergunta sempre me vem nas horas mais difíceis. Me pergunto o que seria se ela estivesse aqui, o que me diria. E fiz, e faço.

Passamos eu e meu irmão por muitos momentos de dor, por vezes sozinhos, por opção, com a saudade ferindo. Mas sempre tivemos o apoio e o amor de nossa família, de nosso pai, de nossa avó, de nossos tios e primos. Sou muito grata a eles por isto.

14 anos se passaram, mas o desejo de que aquele 11 de janeiro fosse um pesadelo nunca saiu da minha cabeça. Infelizmente, esta lembrança aconteceu. Não há sono que reverta, nem tempo, nem dor.


Ainda assim, vives aqui comigo. Todos os dias. Nos bons. Nos ruins.

E, oh... aquela promessa... estou a ponto de cumpri-la! ;)

Amo você, mãe.



Lívia Almeida